O que Oxum pode nos ensinar sobre a vida, a beleza e a autoestima?


Existe um preconceito insano quando se ouve falar sobre orixás. Mas na verdade, esses deuses africanos possuem os mesmos arquétipos que os deuses de outros panteões - como por exemplo o greco-romano. No caso de Oxum, para entrar em sintonia, você necessita simplesmente enxergar a beleza das coisas que trazem prazer no seu dia a dia. Quer saber como?

Um beijo, um gesto afetuoso, um perfume envolvente ou um olhar insinuante, denunciam a sua presença. Oxum rege todos os domínios do amor, da vaidade e dos relacionamentos. Apesar de resumir seus atributos nos terreiros, Oxum age, na verdade, no coração de todo ser humano mostrando os caminhos da sedução. Sua força e energia nos impulsiona a ganhar autoconfiança, alegria e despertar a sensualidade mais sutil e trazem um sopro de renovação nos nossos relacionamentos.

Apesar da forte marca que carrega na maternidade, Oxum é geralmente representada por uma mulher jovem, bela e sedutora. Graças às lendas e histórias de amor entre Xangô, Ogum e Oxóssi, Oxum acabou imortalizando a imagem de uma deusa sensual, autoconfiante, vaidosa e controladora de todos os domínios dos relacionamentos. Existem muitas lendas que contam suas aventuras amorosas. E essa que contarei abaixo certamente ajudará a compreendê-la.

Uma das lendas, diz que Oxum era a filha mais amada de Orumilá. Quando a menina nasceu, seu pai deu-lhe de presente as águas doces, as cachoeiras e o poder de abençoar o ventre de todas as mulheres do reino.

Oxum cresceu bela, meiga e mimada. Tinha o coração doce, mas cheio de vontades.

Quando estava na idade de se casar, muitos pretendentes apareceram às portas do palácio de Orumilá. O primeiro a se apresentar foi Oxóssi, o caçador, que presenteou o rei com lindas peles, animais e frutos em abundância. Orumilá acreditou que a filha seria feliz com aquele homem que sustentaria a casa e sempre iria prover a mesa, afinal Oxóssi era um grande caçador.

E Oxum foi entregue a Oxóssi, indo com ele para a sua floresta. 
Mas em pouco tempo Oxum estava triste e deprimida. Apesar de Oxóssi ser forte e belo, passava o dia inteiro pelas matas, sempre em busca de troféus para o seu salão de caça. Além disso, observava Oxum, Oxóssi possuía modos grosseiros, nunca a elogiava e sequer oferecia carinhos. Em lágrimas, Oxum enviou um mensageiro relatando as tristezas ao pai que imediatamente cancelou o noivado.

O segundo pretendente foi Ogum, o grande general, senhor dos exércitos de Oxalá. Além das patentes, Ogum era também um grande ferreiro. Pelas suas qualidades, Orumilá acreditava que ao lado desse guerreiro, Oxum estaria sempre protegida. Assim, entregou a filha a Ogum, que a escoltou com seu poderoso exército.

Ogum também era forte, jovem e belo. Mas só pensava em guerrear, em criar estratégias e alimentar a vaidade do seu exército. Além disso, Ogum era ríspido com Oxum, e reclamava, sem medir palavras, sobre sua meiguice - que considerava intragável.
Oxum chorou. Enviou um mensageiro relatando suas tristezas ao pai que imediatamente cancelou o noivado.

Muitos outros pretendentes continuaram a chegar, mas Oxum recusava a todos temerosa de sofrer novamente.

Um dia um maltrapilho pediu abrigo às portas do palácio de Orumilá. O Rei imediatamente quis dispensá-lo, mas Oxum compadeceu-se do peregrino e implorou ao pai que o acolhesse.

O homem banhou-se, ganhou roupas limpas, comeu, bebeu e repousou. Agradecido, fez uma trova que dedicou a Oxum. A princesa ficou encantada e pediu que se aproximasse do trono. O homem recitou outros versos, contou-lhe histórias. E pediu permissão para lhe pentear os cabelos, enquanto lhe cantava trovas.

Um dia, o peregrino precisou partir. Curvou-se diante do trono e agradeceu a hospitalidade que lhe foi oferecida. Oxum chorou e disfarçadamente implorou ao pai que impedisse a partida do homem. Orumilá argumentou que nada poderia fazer para impedi-lo, a não ser acorrentá-lo, mas mesmo assim seria injusto, pois que ele nada de mal lhes fizera.

Depois da partida daquele estranho Oxum chorou as noites que se seguiram. Observando a lua, sentia a falta do humilde trovador.

Cansado de ver a filha triste e querendo ver sua filha desposada, Orumilá convidou os melhores partidos para que a filha escolhesse seu futuro esposo. Organizou um grande baile, mas Oxum, deprimida, não quis saber de ninguém. Aborrecido, o rei exigiu que a filha escolhesse por bem o futuro marido ou então, ele mesmo, o faria.

No dia da grande festa, Oxum passeou os olhos por entre os convidados, mas nenhum deles a agradou: todos eram homens ricos e poderosos; belos e fortes, mas nenhum lhe falava ao coração. 

Foi então que Oxum avistou entre os convidados o andarilho trovador. A jovem correu até o homem, levou-o até o trono de Orumilá pedindo a ele que cantasse. O andarilho assim o fez. Sob o olhar de todos, cantou e recitou poemas - todos dirigidos a Oxum. A princesa, emocionada, disse ao pai que aquele homem era o homem que tanto sonhava. Orumilá, os convidados e toda a corte gargalharam. Onde já se viu tamanho disparate, a filha do rei casar-se com um mendigo? Oxum gritava defendendo o peregrino contra o desprezo dos demais.

Foi então que se ouviu o som de uma trovoada! O chão estremeceu e o peregrino foi atingido em cheio por um raio. Para grande surpresa e espanto de toda a corte, o estranho transformou-se em Xangô, o senhor da Justiça, o maior juiz de Iorubá.

Orumilá perguntou-lhe por que ele não se apresentara como realmente era desde o início. Xangô respondeu que não desejava o amor e nem o dote de Oxum. Ele desejava apenas uma mulher que fosse justa como ele, por isso, disfarçou-se de andarilho, preferindo conquistá-la pelo coração e pela sensibilidade. Ele agora tinha certeza de que Oxum seria a sua verdadeira rainha, pois que ela o amava, não por seu poder, mas por suas qualidades.

Abatido pela sabedoria de Xangô, Orumilá concedeu a mão de sua filha.

Xangô levou Oxum para o seu reino, em Oyó, onde a princesa foi coberta de carinhos, dengos, sedas, e filhos. Xangô a presenteou de Bondade e Amor tornando-a Rainha do Ouro e da Prosperidade. Oxum nunca mais chorou de tristeza. Se o fez, foi somente de alegria. Ah! Antes de terminar essa lenda, ela aprendeu a cantar todas as cantigas de Xangô. A quem jamais deixou.

OXUM NA MITOLOGIA AFRICANA
Existem outras centenas de lendas que explicam como Oxum se tornou uma divindade venerada na mitologia iorubá e nas tradições religiosas do Candomblé e na Umbanda, no Brasil.

Mas antes de se tornar uma deusa, Oxum era o nome de um rio que cortava a cidade de Osogbo, província de Ibadan, na Nigéria. A transição e transformação de um acidente geográfico em uma entidade mostra o encantamento marcado pela beleza das águas que alimentam os filhos da cidade que lhe deu o nome. Foi assim que Oxum transformou-se em Orixá, passando a ser cultuada em cerimônias religiosas como uma força etérea intermediária entre o mundo terreno e o mundo espiritual.


Na mitologia iorubá, Oxum é retratada segurando um espelho - o abebê - que sempre reflete a sua beleza. Para nós mortais, mirar-se no abebê é olhar para dentro de si mesmo, vasculhar os recantos da psique - lugar onde encontramos a coragem de aceitar e amar a totalidade de quem realmente somos. Oxum é a deusa que revela a verdade interna, que reflete nossa própria alma e nos convida a enfrentar tanto nossa beleza quanto as nossas imperfeições

NO AMOR, A FORÇA DO ENCANTAMENTO
É nos encontros amorosos, entretanto, que Oxum exerce todo o seu poder de encantamento e sua força em toda sua plenitude. Olhar sedutores, sorrisos maliciosos, flertes, palavras de amor são quase oferendas para a deusa da paixão. Oxum quer que os relacionamentos sejam afetuosos. Não importa se sexuais, amigáveis, sociais ou espirituais. Ela quer que tudo tenha um coração.

Na vida a dois ela nos faz descobrir novas formas de prazer e resgatar o erotismo nos relacionamentos. 

Reverenciar a deusa africana significa usar com sabedoria os dons divinos da sexualidade, da sedução e autoestima. Porém, existe o risco de entrar em contato com o lado negativo dessa divindade, que dá margem à frivolidade, exibicionismo e a tendência de se envolver em triângulos amorosos. No panteão africano, Oxum é vaidosa e ciumenta e detesta ser ofuscada por ninguém.

HOMENS DE OXUM
Aliás, os impulsos de Oxum não são privilégio feminino. Muitos homens contemporâneos também vivem sob sua influência, com frequência projetando suas qualidades nas mulheres que os atraem. Os homens mais sensíveis, porém, aprendem facilmente a reconhecer e cultivar virtudes essencialmente particulares de Oxum, como senso estético, a preocupação com o corpo atlético nas academias, nos esportes e na sensibilidade que costumam expressar em suas profissões. Oxum também inspira artistas plásticos, joalheiros, arquitetos, cozinheiros, chefes de cozinha e músicos. 

MULHERES DE OXUM
Para as mulheres, a reverência à deusa começa por se sentir plena. Oxum representa o princípio feminino em estado puro. A mulher sintonizada com os atributos da deusa esta à vontade em sua condição e tem uma relação saudável com o seu corpo - mesmo as cheinhas. 

O conceito de Oxum do que é belo não se enquadra nos padrões pré-estabelecidos de perfeição. A deusa nos fala da graça natural, de seu charme, seus encantos pessoais. 

Ninguém precisa mergulhar num rio ou numa cachoeira para encontrar Oxum, mas confiar em seus encantos e talentos. Pensou em algo agradável, um café quentinho, gostoso e prazeroso? Ora Yê Yê Ô! Oxum apareceu.  

Na simbologia, Oxum rege o amor, a criatividade e o gosto estético pelo trabalho. Simboliza também a fertilidade, nos níveis físico, mental, espiritual e emocional.


PARA ENTRAR EM SINTONIA COM OXUM
  • Cultive emoções e sentimentos como afetividade e sensibilidade.
  • Valorize e procure compreender o significado profundo de seus relacionamentos.
  • Dance, cante ou toque um instrumento. A criatividade e a arte da criação são presentes de Oxum à humanidade.
  • Frequente exposições, galerias de arte, concertos, musicais e abra seus olhos e ouvidos às manifestações artísticas.
  • Enfeite os ambientes com flores, especialmente rosas amarelas.
  • Perfume seu corpo e sua casa com incensos de fragrâncias suaves.
  • Tome um bom banho - só ou com o seu parceiro - com sabonetes perfumados.
  • Almoce ou jante um prato apetitoso acompanhado com uma bebida apropriada: Oxum aprecia o prazer desses momentos especiais.
  • Cultive sua autoestima. Acredite: seu corpo é um templo em que moram a beleza, a saúde e o bem estar. 

Cultuada em nascentes, córregos, rios e cachoeiras, Oxum é identificada no sincretismo em diversas santas católicas, entre elas Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Conceição e a Virgem Maria.

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