Os Mercadores do Templo


Todas às vezes que o prêmio da loteria acumula o nome de Deus é lembrado: "Se Deus quiser a minha vida vai mudar!"; "Se Deus quiser eu não vou mais trabalhar!". É muito comum ouvir frases desse tipo. Pobre Deus! Para muita gente, enriquecer ou mudar de vida é obra exclusivamente Divina. Infelizmente, a fé nesse deus "vitorioso" é compartilhada por quase todas as pessoas. Por isso, é natural ouvir Seu Santo Nome em vão. Basta jogar na loteria com fé que tudo há de melhorar.

O grande equívoco do homem moderno é culpar Deus pelos seus problemas. Essa visão distorcida ajudou a desqualificar a fé e perpetuar a teologia da prosperidade que já vigorava no tempo de Jesus.



A teologia da prosperidade (também conhecida como evangelho da prosperidade) é uma doutrina religiosa que defende a "bênção financeira", vista como um "desejo" de Deus. Ela prega a saúde perfeita, a vitória "contra o diabo" na área financeira e a prosperidade. Essa doutrina incute nos fieis a necessidade da busca do poder e do sucesso, e que as doações em dinheiro, aumentariam a riqueza material dos fiéis. O grande mote da teologia da prosperidade é instituir a pobreza e a miséria como forças diabólicas que devem ser exorcizadas da mente e do corpo à qualquer preço.


Uma famosa igreja pentecostal recorre a esse tipo de discurso. Uma propaganda exibida em seu próprio canal de tevê descreve o perfil de um cidadão aparentemente comum, seu lazer, seu sucesso familiar e profissional. No fim, o "vitorioso" cidadão atribui à sua fé o segredo da felicidade. Trata-se da venda de um "produto-conceitual" embalado cuidadosamente em papel celofane. É uma armadilha perigosa capaz de enganar os desesperados.



Deus não interfere no nosso livre-arbítrio. Deus faz parte da nossa vida, assim como de Tudo que fazemos. Pobreza não é sinônimo de infelicidade. Estar à margem da sociedade é uma consequência da falta de interesses políticos. Soma-se a isso a falta de vontade do individuo, suas escolhas pessoais mais as falta de oportunidades e os problemas aparecem. Ora, Deus nos dispõe de ferramentas para sermos capazes. E essa capacidade deverá estar em perfeito equilíbrio físico, mental e espiritual. A educação, a base de uma sociedade deveria ser prioritária e certamente nos faria compreender e recriar um melhor o mundo. Somente assim poderíamos enxergar o próximo com respeito e dignidade. Sem educação não há como sermos ricos, felizes e completos.



É impressionante o espaço que os evangélicos conquistaram nos meios de comunicação aproveitando-se da conhecida teologia da prosperidade. Incutir na cabeça de alguém que o sucesso, dinheiro e poder provêm exclusivamente da fé é aceitar Deus como um ser cruel que condena à desgraça metade da população do planeta. Infelizmente, alguns oportunistas, que não possuem conhecimento nem sensibilidade, aproveitam-se da trilha aberta pelo desespero a fim de se promoverem politicamente. Basta comprovar que essas igrejas crescem assustadoramente na periferia das grandes metrópoles. Os "pastores" induzem suas ovelhinhas a se aventurar por caminhos obscuros e repletos de armadilhas. Muitas vezes esses aventureiros - que se autodenominam profetas - conhecem pouco o assunto, mas são craques em marketing, e bem assessorados, conseguem generosos espaços na grande imprensa e na política nacional.


Os falsos profetas ou mercadores do templo querem dar um novo sentido aos problemas. Na verdade vibram a cada nova crise. Vibram a cada desgraça. Não é a toa que os negros, a grande maioria que ocupa a faixa de pobreza social, se afastam cada vez mais de sua raiz cultural. Essas igrejas fazem crer que ser negro e afro-espírita é sinônimo de delinquência e declínio social.

Mas garanto que essa não é a forma mais eficaz para o "bom combate". Algumas dessas igrejas estão se infiltrando nos países africanos. Estabelecem seus impérios embasados na solidariedade. Vivem a dizer que oferecendo oportunidades e esperança. Na verdade, intencionam destruir a cultura negra demonizando seus antepassados. Agem como os jesuítas na Terra de Santa Cruz. Chamar essas obras de "Transformação Social" é um ultraje. O negro como Negro deve aprender a respeitar suas raízes culturais. Se continuar acreditando que é uma vítima social jamais será respeitado. Continuará coadjuvante da história.



Dentro desse comportamento de pregação, os pobres - eternos desesperados - por não conseguirem ser ouvidos pela sociedade partem de maneira cega para os templos evangélicos como tábua de salvação. Frequentam alguns cultos e logo estão a apregoar que o Jesus é a salvação, enquanto que as leituras bíblicas dos textos sagrados tornam-se um simples jogo de repetição na língua desses falsos interlocutores.


GENTILEZAS QUE NÃO GERAM GENTILEZAS



Jesus não fundou uma religião ou uma igreja. Ele semeou entre nós um projeto visionário, baseado no amor ao próximo. Foi assassinado na cruz por legitimar a igualdade e a abundância. Crucifica o Mestre pela segunda vez quem em nome de Deus legitima o poder financeiro em nome da fé. Que me perdoem os crentes, mas esse deus avalista não se encontra nas páginas da Bíblia. Por favor, não demonizem e não destruam a religião africana. Afrontar a cultura da maneira como está acontecendo é um retrocesso. O pior crime que se pode cometer é retirar de um povo a sua raiz, a sua origem, a sua Cultura.


Em todos esses anos tive contato com uma enorme variedade de evangélicos. Os humildes e sensíveis se diziam propagadores dos ensinamentos de Jesus; enquanto outros, embriagados pela vaidade, se diziam porta-vozes Dele, exibiam diplomas, certificados, medalhas aos seus séquitos de desesperados. Desde essa época tive a certeza de que não passavam de enganadores. De mercadores do templo.

Sei que atesto a opinião da maioria das pessoas. É claro que muitos preferem se calar temendo polêmicas. A tristeza que nos acomete é saber que muitos daqueles que ainda cultuam os caboclos e os preto-velhos são marginalizados. Hoje em dia, dizer-se espírita é quase emitir um certificado de ignorância. O negro não pode e nem deve envergonhar-se de sua cultura. Um povo feliz é aquele que honra a sua raiz, a sua origem. Isso, sim, nos faz dignos e vitoriosos. Esse comportamento lamentável explica porque os negros estão abandonando os terreiros (leia sobre isso 👉 aqui).



A tendência desses falsos profetas é cair no vazio do próprio coração e provavelmente terão que explicar às próximas gerações por que, num momento em que o planeta está preste a entrar numa era iluminista, vivem a empregar seu precioso tempo enganando e disseminando as trevas da ignorância. Como dizem os antigos, "a Cesar o que é de Cesar, a Deus o que é de Deus".


Priom
SOBRE O MESTRE INTERIOR
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