A cena do terceiro ato da ópera Carmem, do francês Georges Bizet, a protagonista cigana andaluza lê sua sorte nas cartas e antevê seu trágico destino. A cena, que é muito importante no desenvolvimento do enredo, mostra uma das mais ricas tradições da arte divinatória: a cartomancia. Essa antiquíssima forma de prever o futuro está intimamente relacionada com a própria história das cartas como você verá a seguir.
| Para saber mais: |
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Para falar sobre a cartomancia é preciso antes falar do baralho. Os dicionários não se decidem sobre a origem da palavra baralho e a própria origem do conjunto de 52 cartas – como atualmente conhecemos - é controversa. Mas em um momento pouco preciso do século XIV, as cartas de jogar foram introduzidas e formatadas na Europa. Entre os prováveis responsáveis por esse feito alinham-se ciganos, cruzados e sarracenos, mas nada de concreto se pode afirmar. Há apenas algumas indicações esparsas.
Os ciganos e os cruzados parecem definitivamente descartados por uma questão de incompatibilidade de época. A última Cruzada terminou em 1291, e só cem anos mais tarde apareceram referências escritas comprovando a existência de cartas de jogar. Com os ciganos ocorre o contrário: os primeiros grupos desse povo nômade, tão ligado à arte da adivinhação, só começaram a penetrar maciçamente na Europa bem mais tarde, por volta de 1400. Assim é pouco provável que tenham introduzido as cartas naquela região.
Quando os ciganos originários daquele país emigraram em direção ao Ocidente levaram as cartas e a cartomancia a toda Ásia Menor e ao norte da África. Como as cartas chegaram à Europa é ainda um assunto polêmico. Para alguns, os árabes as teriam introduzido na península ibérica durante os séculos que dominaram essa região.
Desde essa época, a arte da adivinhação por meio das cartas não mudou. Os velhos segredos e mistérios dos ciganos têm passado de geração em geração e, o que é mais importante, os antiquíssimos valores atribuídos a cada carta permanecem os mesmos. Na verdade, não poderia ser de outro modo, pois toda a sabedoria da cartomancia está contida no complexo sistema esotérico que formam as 52 cartas divididas em 4 naipes bastante conhecidos e curiosos como você verá a seguir.
11 curiosidades sobre os baralhos e a Cartomancia que você talvez desconheça
1 - Quem é quem nas cartas de um baralho
O baralho atual tem 52 cartas, com 13 delas em cada um dos quatro naipes. O Ás é influência alemã, que significa número 1 ou "uma unidade". Portanto, as cartas são numeradas de 2 a 10 e possuem personagens históricos e lendários de reis, rainhas, amantes, deusas e heróis que acabaram sendo imortalizados nos desenhos que, hoje reinam nas mesas de todo mundo. Algumas características das personagens possuem correlações interpretativas em uma consulta às cartas - que explicarei nos próximos artigos. Conheça-os abaixo:
Rei de Copas - Carlos Magno: rei Franco, herói na Idade Média, quando liderou exércitos e conquistou o império único; por isso, carrega sempre uma espada em posição de ataque.
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2 - O monge ocultista alemão
A origem exata da cartomancia é desconhecida, mas alguns acreditam que ela tenha surgido como uma forma de adivinhação praticada por monges medievais adeptos do ocultismo. Uma dessas correntes de pensamento alerta sobre a existência de um lendário monge beneditino alemão chamado Johann Heidenberg, no século XV, conhecido pelo pseudônimo de Johannes Trithemius. Trithemius (ou Tritêmio) ficou conhecido por suas inúmeras pesquisas que teriam lhe proporcionado descobrir vários métodos que permitiriam influenciar a mente de outra pessoa, desvendar o presente, o passado e o futuro - feitos que incrementaria o desenvolvimento do ocultismo moderno e tardio.
3 - O outro monge alemão
Curiosamente, a primeira referência ao jogo de cartas foi feita no século em 1377 - um século antes de Trithemius - por outro monge alemão também chamado Johannes, que mencionara o aparecimento de um novo "jogo de cartas" comparado ao xadrez porque, segundo ele, "nos dois jogos existiam reis, rainhas, chefes nobres e pessoas do povo". Talvez não haja nenhuma correlação entre os dois monges homônimos, mas aqui temos uma nova pista para descobrir a aura de mistérios que envolvem a cartomancia esotérica, você não acha?
4 - A origem da palavra naipe
Em 1379, Giovanni Covelluzo, historiador da cidade de Viterbo, afirmou ter conhecido um jogo de cartas vindo do país dos sarracenos chamado naib. Covelluzo, que viveu no final do século XV, vem confirmar a corrente que atribuiu aos sarracenos a introdução dos jogos de cartas na Europa. De acordo com ela, a palavra espanhola naipe teria derivado do árabe naib.
5 - Um jogo das 100l e uma noites
No Oriente haviam muitos jogos com baralhos em formatações diferentes. Na Pérsia, no século XVI, o baralho não era numerado e tinha apenas figuras para diferenciar cada carta.
6 - Cartas de bambu
Na Antiga China, durante o reinado do Imperador S'eun-ho (cerca de 1120 d.C), as cartas eram feitas de madeira ou fibra de plantas; as cartas eram circulares que serviam para jogar ou para serem consultadas como um oráculo.
7 - Dez avatares
Posteriormente, na Índia, existiam jogos com 120 cartas, onde os dez naipes que constituíam um maço representavam as dez encarnações de um dos principais deuses do hinduísmo Vishnu: (Matsya, Parashurama, Koorma, Rama, Varaaha, Krishna, Narasimba, Buda, Vaamana, Kalki).
8 - Como surgiu os desenhos dos quatro naipes
Inspirados nas cartas de tarô, os primeiros fabricantes europeus do século XIV começaram a usar figuras de Espadas, Porretes, Taças e Moedas como símbolos em suas cartas. Mas na Alemanha, os quatro naipes foram substituídos por Corações, Folhas, Sinos e Bolotas (sementes), pois acreditavam que essas imagens eram mais representativas culturalmente para eles. Entretanto, os franceses mantiveram os símbolos germânicos do Coração, mas os Sinos foram substituídos por “Carreaux” (Azulejos ou Diamantes); as Bolotas se tornaram “Trèfles” (Trevos de três folhas); e as Folhas em “Piques” (Espadas).
9 - Dia e noite, Quente e frio, bom e mau e outras dualidades esotéricas
Muitos acreditam que as cores vermelha e preta simbolizam dualidades e antagonismos. Na verdade o vermelho e o preto dividindo os 4 naipes foi uma opção utilizada pelos fabricantes franceses como forma de simplificar e baratear a impressão das cartas. Foi assim que os 4 naipes foram divididos em duas cores (vermelho para Ouros e Copas; e preto para Paus e Espadas) tornando-se um padrão universal. O esoterismo sobre as dualidades esotéricas vieram bem depois.
10 - 365 dias do ano
Quando se soma o valor numérico de todas as cartas do baralho (sendo que o Rei vale 13, a Dama 12 e o Valete 11), obtém-se o número 364, ao qual se acrescenta 1 (valor do Curinga) e chega-se a 365, o número de dias que formam um ano.
11 - Curiosidades esotéricas
O baralho tem 52 cartas; o ano tem 52 semanas. A soma do valor numérico das cartas de cada naipe resulta 91, que é o número de dias que tem cada uma das estações do ano (Primavera, Verão, Outono e Inverno). Quando se somam entre si os algarismos da soma total das cartas (364), ou seja 3 + 6 + 4, obtém-se 13 - que é o número de cartas contidas em cada naipe.
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