Descanso Sagrado


Infelizmente somos escravos do relógio e não é difícil começar e terminar a semana sem ter tido nenhum instante para estar em contato com as emoções internas e rezar. Sim, nós não somos feitos apenas para produzir, fabricar, trabalhar, mas para ser e descansar. A nossa realização espiritual está também no repouso, numa pausa. É no silêncio do coração, que nós relativizamos nossas competências e descobrimos que somos capazes de pensar, interagir e enxergar a beleza do mundo que nos rodeia - de praticar a arte da atenção às coisas divinas.

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As mais antigas religiões do mundo reservam um dia especial da semana para prestar reverência a Deus, agradecer o fechamento de um ciclo semanal e renovar as forças para o início de outro período de trabalho. Islâmicos, judeus e cristãos têm formas de cultivar esse descanso sagrado que podem nos inspirar a incluir em nossas agendas essas pausas restauradoras.

Sim o tempo voa. Mas, se não tivermos a cada semana uma pausa, fica a sensação de que estamos numa roda-viva, ininterrupta. O lazer é uma possibilidade de sair dessa rotina. Nem sempre isso significa descansar e repor as energias para mais um período de trabalho. Porém, podemos aprender com as antigas religiões as formas de cultivar pausas sagradas.


Alguns acendem velas e incensos, bebem vinho, enquanto outros se abstêm do álcool e até de alimentos. Há os que se isolam de tudo e eu esqueci reúnem ao redor da mesa farta ou de um altar. Para muitos, deixar de trabalhar é fundamental, enquanto muitos se dedicam nesse dia ao voluntariado.

São vários os rituais, mas a ideia que permeia o dia dedicado à prática religiosa é mais ou menos a mesma: fechar um ciclo de trabalho com um dia ou momento especiais consagrados a Deus.
Despir-se do roteiro que repetimos a cada dia, mesmo nas folgas, e se voltar para si mesmo, para o próximo, com os olhos do coração, é uma atitude que repõe energias, reequilibra emoções e renova a fé - até mesmo quando não se é adepto de uma religião.

Reservar um dia a espiritualidade faz parte da própria concepção de qualquer cultura que tenha calendário. Veja a seguir como cada religião cultiva esses rituais de descanso sagrado.

ISLAMISMO
QUINTA-FEIRA: DIA DE DESCANSO E ORAÇÃO
Os muçulmanos consagram a Deus a sexta-feira. Nos países em que essa religião predomina (como a Arábia Saudita berço do Islã), esse é o dia de descanso semanal. É o dia da semana em que Adão foi criado por Alá.

O islamismo surgiu com a revelação do livro sagrado, o Alcorão, ao profeta Muhammad (Maomé), por volta do ano 622. O Alcorão, que contém as leis relativas à vida religiosa e civil, ensina que há apenas um Deus, a quem o ser humano deve servir para ter direito ao céu e não ser castigado no inferno. Para tal, é preciso observar cinco fundamentos obrigatórios: 1) testemunhar que apenas existe um Deus; 2) rezar cinco vezes ao dia; 3) dar 2,5% de seu lucro líquido para as pessoas mais carentes; 4) jejuar no mês de Ramadã (que é o nono, determinado a partir da contagem de nove fases completas da lua); e 5) fazer ao menos uma vez na vida a peregrinação a Meca, a cidade onde nasceu O profeta Maomé, na atual Arábia Saudita.

Nos países em que o islamismo não é a religião dominante, os praticantes podem trabalhar na sexta-feira, mas devem parar todas as atividades durante 45 minutos, a partir do meio-dia e meia, quando tem início a reunião semanal na mesquita, na qual fazem orações em conjunto e ouvem o sermão do sheik. Quem estiver perto da Mesquita tem a obrigação de participar. E quem estiver longe deve parar o que está fazendo e orar.

Além disso, segundas e quintas-feiras - dizem que o profeta Maomé deixava de comer - são reservadas para o jejum como forma de purificação do corpo, da mente e do espírito. Nessas ocasiões, do nascer ao pôr do sol, os adeptos do islamismo não podem ingerir nenhum alimento sólido ou líquido nem ter relações sexuais. É uma maneira de deixar o mundo material de lado e se aproximar de Deus, renovando a fé e a fidelidade a Ele. Essa é uma forma estritamente individual em que apenas a própria pessoa e Deus sabem se o jejum foi cumprido.

JUDAÍSMO
SEXTA-FEIRA: O RITUAL DOS CINCO SENTIDOS
As origens do judaísmo remontam ao ano 2100 a.C, quando Abraão recebeu de Deus a missão de guiar seu povo. Mas a organização da religião só ocorreu muitos anos depois, no momento em que Deus transmitiu ao profeta Moisés os Dez Mandamentos. Os judeus seguem as leis do Antigo Testamento, chamadas Torá. Entre esses preceitos, está o respeito ao descanso no Shabat. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou porque nesse dia, Deus descansou de toda a obra da Criação, segundo o Livro de Gênesis.

Para os judeus, o descanso tem um sentido profundo e está longe de ser sinônimo do conceito contemporâneo de lazer. É dia de relaxar, ler, fazer caminhadas, dar um passeio tranquilo com uma pessoa especial, rezar e se reunir com a família para uma refeição calma. Nada de agito e badalação - e, principalmente, trabalho. Os judeus não devem trabalhar e, de jeito nenhum, ter empregados servindo a eles. No Shabat, o judeu abandona todas as atividades dos dias da semana em que ganha seu sustento. E, como o calendário hebreu é lunar, o dia começa ao nascer da lua, o Shabat vai do entardecer de sexta ao entardecer do sábado. Ao ser instituído como lei, há 3.000 anos, o Shabat teve importante função social, numa época em que o trabalho escravo não permitia a folga semanal.

O dia termina com a cerimônia chamada Havdla. O significado dessa palavra é separação: simboliza a separação desse dia especial dos outros da semana. É um ritual em que a intenção é estimular os cinco sentidos: os participantes observam o fogo de uma vela, sentem seu calor, aspiram ao odor das especiarias, provam vinho e ouvem, no final, o som da chama sendo apagada no vinho. Tudo isso porque, durante o Shabat, os judeus recebem uma nova alma, que se vai quando ele termina, deixando a pessoa com a necessidade dessa energização para encarar a semana que se inicia. Assim, eles marcam o fechamento de um ciclo e o começo do outro.

CRISTIANISMO
DOMINGO: O DIA DO SENHOR
Os católicos em todo o mundo guardam o domingo como o dia da dedicação espiritual. E deveriam seguir os ensinamentos da Bíblia, inclusive do Novo Testamento (o relato dos apóstolos sobre a passagem de Jesus Cristo na Terra).
 
Os fiéis deveriam evitar trabalhar nesse dia, embora isso não seja proibido, como ocorrem outras religiões cristãs (algumas pentecostais, por exemplo). Mas os católicos perderam o sentido literal religioso do domingo. Domingo não é apenas um dia colorido pelo sol, da uma morena na praia, pela ginga do samba ou do futebol. A pausa dominical é uma ocasião tão importante de religação espiritual católica que mereceu uma carta apostólica, chamada Dies Domine, escrita pelo Papa João Paulo II, em maio de 1998. Essa carta, dirigida aos bispos, ao clero e a todos os católicos tratava sobre a importância de resgatar o significado original do domingo, que significa, em latim “Dia do Senhor”. O domingo foi escolhido por ser o dia em que Jesus ressuscitou.

Em sua carta, o Papa reafirma que esse deve se um dia, sim, de muita alegria, mas pela ressurreição de Cristo e uma ocasião para confraternização com a família. E que, os praticantes que se reunissem na celebração da santa missa, relembrassem episódios da saga de Cristo, recontassem a história de seus sacrifícios e de sua Ressurreição. Jesus foi sepultado na sexta-feira e na manhã do terceiro dia, no domingo, ressuscitou para a vida eterna.

Por isso, a carta papal pedia que os católicos tentassem recuperar a consagração de Deus, aproveitando os domingos inclusive para praticar a caridade, ou seja, o trabalho voluntário. Como escreve a Bíblia, o descanso de Deus após a criação é o momento de contemplação de sua obra, da qual o ser humano faz parte e a qual deve ser eternamente grato. 


Priom
Mestre Interior
Meu nome é Priom e permaneço em processo constante de conhecimento sobre mim mesmo, sobre o mundo e sobre as relações humanas. Compartilho aqui conteúdos apurados  sobre Numerologia, Astrologia, Espiritualidade e religião. Saiba mais sobre mim e o blog aqui.

CONVERSATION

1 Comentários:

  1. Adalberto Silva13/8/23 07:29

    Com total respeito a todo o qualquer comentário/opinião do ilustre mestre, creio ser necessário termos reservas aos conteúdos respeitantes à religião, visto tratar-se de um instrumento criado, literalmente, pelo ser humano, cuja finalidade foi mesmo transformar a fé em objeto de comercialização, seguindo os dogmas criados para esse fim, como, por exemplo, a reserva de um dia especial da semana para reverenciar a Deus, reverência que a Ele deve ser prestada e seguida em todo o tempo de nossa vida terrena e espiritual, fato que nos é inteiramente possível se praticarmos nossa crença sob a ótica espiritualista, atividade essa originada desde há milhões de anos. Abraços e todo o respeito deste pequeno irmão espiritualista filosófico.

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