Iemanjá é a Mãe de todos os Orixás. Em todo o Brasil, fiéis vestem branco e rezam pedindo amor e felicidade. Mas por que será que ela é representada como uma mulher de pele clara? Por que veste uma túnica azul transparente e é associada a Nossa Senhora?
Bem, para responder a tantas perguntas deveremos ir por partes.
Dizem os pescadores, que Iemanjá vive no rastro que
a lua deixa no mar. Protetora da maternidade, fertilidade e fecundidade, Iemanjá
- a Rainha do Mar no candomblé e na umbanda -, ultrapassou as fronteiras
religiosas e conquistou o coração de todos os credos. Não existe alguém que
nunca ofereceu sua devoção atirando flores ao mar – no dia 31 de dezembro – ou especialmente
no dia 2 de fevereiro, dia consagrado à ela.
Também chamada de Oloxum, Inaiê ou Janaína, Iemanjá representa a força feminina da geração da vida. Seu nome, Yiá Ommí Eja significa, em ioruba, “A Mãe Água que sustenta os pescadores” devido ao um rio nigeriano que desembocava no mar. Logo que chegou ao Brasil, a deusa africana Yiá Ommí Eja sofreu as influências da cultura europeia, logo sendo associada a uma sereia.
Também chamada de Oloxum, Inaiê ou Janaína, Iemanjá representa a força feminina da geração da vida. Seu nome, Yiá Ommí Eja significa, em ioruba, “A Mãe Água que sustenta os pescadores” devido ao um rio nigeriano que desembocava no mar. Logo que chegou ao Brasil, a deusa africana Yiá Ommí Eja sofreu as influências da cultura europeia, logo sendo associada a uma sereia.
Mas é importante dizer, que nos candomblés de origem nagô, Iemanjá sempre foi representada como uma sereia (mãe dos peixes). Essa representação mitológica pode ter sido recriada a partir de várias lendas e culturas paralelas que atribuíam às sereias o poder do mistério feminino ao de um peixe perigoso, “devorador de almas”, que tragavam os homens para suas entranhas. Para os nórdicos, por exemplo, tanto a mulher, quanto os monstros marinhos seriam capazes de arrastar os homens para as trevas, para as aventuras em “outros mundos”. Comparando a vida a uma longa viagem, para muitos povos as sereias representavam as emboscadas oriundas das paixões e dos desejos – como convém dos elementos indeterminados como o mar. Por isso era comum que os navegadores, antes de partir, presenteavam as sereias jogando “presentes” ao mar. Assim como os monstros que aterrorizavam os marinheiros em suas aventuras em terras de além-mar, as sereias representavam, além dos medos do desconhecido, a sorte da perpetuação. Simbolicamente a água salgada do mar representava as lágrimas derramadas dos que ficavam em terra firme. Ou das lágrimas contidas dos que partiam em busca de uma nova vida.
COMO IEMANJÁ TORNOU-SE A RAINHA DO MAR?
É importante lembrar, que comparada às outras divindades femininas do panteão africano, Iemanjá é uma figura que não possui problemas existenciais ou passionais (como a vaidade de Oxum, a impulsividade de Iansã ou a rabugice de Nanã). Curiosamente, Iemanjá parece pertencer a outro universo feminino: ela é passiva e protetora nunca se envolvendo em paixões avassaladoras. Cabe a ela a condição de dona-de-casa, o papel de administradora do lar, de mãe e mulher em período integral. Talvez por isso, Iemanjá é uma das figuras mais conhecidas nos cultos brasileiros. Ao lado de Oxalá, Iemanjá ganhou o posto de rainha e senhora dos demais orixás.
A explicação para esse fato aconteceu na tradução de um sistema criado por uma sociedade descentralizada da vida tribal africana ao ser transferida para o Brasil, onde a cultura dominante foi a europeia. Pelo sincretismo, os jesuítas portugueses forçaram a aculturação dos negros africanos e a aceitação, por parte deles, dos rituais e dos mitos católicos. Durante a escravidão, procuraram fazer “casamentos” entre santos cristãos e orixás africanos, buscando pontos em comum nos dois mitos. Para Oxalá, por exemplo, foi reservado o lugar de Jesus Cristo, fazendo-o ser considerado mais importante – não por uma relação de família e de papel social perante ela, como no original, mas pela hierarquia própria cristã. Para Iemanjá foi reservado o lugar de Nossa Senhora, sendo artificialmente “mais importante” que as outras divindades femininas, o que foi assimilado automaticamente em parte por muitos ramos da Umbanda. Coube à Iemanjá a associação e o papel de Maria, segundo cada região do Brasil: assim, ela passou a ser cultuada como Nossa Senhora da Glória, no Rio de Janeiro; Nossa Senhora da Conceição, em Salvador; e Nossa Senhora dos Navegantes, nas regiões e cidades ribeirinhas do Nordeste.
Mas a curiosidade maior reside na imagem de Iemanjá que acostumamos a ver desde pequenos. O perfil africano - que deveria pertencer a uma mulher negra, mãe, obesa, de seios fartos - foi substituído pela imagem de uma mulher branca, alta, de corpo bem torneado sob uma túnica azul transparente e caminhando sobre as águas; uma mulher jovial que exibe longos cabelos escuros - como um véu – esvoaçando ao vento. Uma mulher misteriosa, serena, cuja cabeça é coroada com uma tiara dourada - como uma rainha - e que das mãos derramam pérolas e flores no mar. Essa imagem foi reproduzida, esculpida em argila e passou a decorar o mar nos festejos em pequenos botes pesqueiros; e não demorou muito a personificar A Rainha do Mar.
Dizem que essa imagem icônica (foto acima) popularmente cultuada no Brasil, foi criada por um português, Pai-de-santo, nos anos 1950. A ilustração foi inspirada no rosto de sua mulher, também espírita e filha de santo do Orixá. Segundo a antropóloga Monique Augras, essa imagem romântica de "uma rainha branca flutuando sobre as águas" acabou esvaziando o conteúdo africano sobre "uma rainha negra e poderosa" e se impôs como única representação de Iemanjá, a ponto de moldar a expressão corporal de suas sacerdotisas nos rituais. Entretanto, os negros jamais questionaram o embranquecimento de Yiá Ommí Eja...
Possivelmente o "retrato" da esposa do pai-de-santo
foi também influenciado por representações de outras deusas esotéricas ou gnósticas
como a Ísis egípcia (compare essa antiga ilustração e tire as suas dúvidas). Era comum nas primeiras décadas do século XX não enaltecer as manifestações religiosas dos negros, daí apresentar os Orixás com a pele branca. Apesar de frequentar os terreiros, muitos brancos escondiam da sociedade a predileção ao batuque e à macumba. Pelo sim, pelo não, que tal continuarmos a falar sobre os preconceitos que passam ao largo e pouco são percebidos na sociedade? Continue esse artigo 👉 aqui.
Olá!
ResponderExcluirComo sempre em grande sintonia, ontem eu lembrava que sairia um novo texto"Iemanjà",comentado anteriormente ,indaguei ,vou cobrar, sairá quando...
E pela manhã abro o face e dou de cara com essa pérola!
SALVE MINHA MADRINA!
Grata, meu amigo de grandes jornadas!
Mandaran.
Obrigado pelo carinho, Mandaran! Demorei na pesquisa, mas acho que na avaliação final valeu a pena. Nesse artigo sobre Iemanjá, busquei incentivar o conhecimento sobre a nossa cultura religiosa. Ela é muito rica, acredite. MUITO RICA MESMO!
ExcluirNAMASTÊ
Obrigada p/suas Lindas Aulas. Acompanho sempre.
ResponderExcluirGilmara Matos
Muito obrigado, Gilmara! _/\_
ExcluirIemanjá não deveria ser negra?!
ResponderExcluirQuerido leitor, creio que os sincretismos deveriam ser avaliados pelo o que ainda fazem na cultura dos povos. Nos dias atuais nem a Umbanda e nem o Candomblé ou qualquer outra religião tem a necessidade de se esconder atrás de outra: somos todos livres e capazes de conhecer e respeitar a fé alheia. Por isso fiz questão de escrever esse artigo. É justamente a sua pergunta que motiva o meu artigo. O mesmo acorre com Santo Expedito (outro artigo sobre sincretismo publicado aqui no blog). Um grande abraço e obrigado pela visita.
ExcluirCaramba, o artigo explica exatamente o por que ela é representada como branca e não negra e a pessoa faz um questionamento desse? A pessoa não lê o artigo e vai postando, é no minimo falta de respeito...
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