Francisco Cândido Xavier, talvez o mais completo escritor mediúnico do mundo, nasceu em 2 de abril de 1910, em Pedro Leopoldo, Minas Gerais - ou seja, sob Áries, primeiro signo do zodíaco, o que lhe daria capacidade potencial para modificar o mundo. No caso de Chico Xavier, essa ação sobre o exterior seguramente foi para melhor.
Órfão de mãe aos cinco anos, foi morar com a madrinha Rita, já que o pai não tinha como cuidar sozinho de nove filhos. Ela lhe dava surras diárias, além de submetê-lo a provações como a de lamber a ferida infeccionada de outro filho adotivo, supondo que isso o curaria. Chico teve, em vida, cicatrizes de maus-tratos que recebeu. Mas sempre afirmava que Rita era boa.
Essa atitude é típica de uma pessoa bem-dotada moral e espiritualmente, que devotou sua vida à produção mediúnica de obras literárias edificantes e ao auxílio aos pobres. Os livros transformaram-se em best sellers (11 milhões de exemplares vendidos) altamente lucrativos, mas Chico não aceitou qualquer dinheiro por eles. Nem mesmo se atribuía a autoria: fazia constar sempre o crédito "pelo espírito" e o nome da entidade que escrevia os livros.
Desde 1928 despendia no mínimo cinco horas por dia para que escrevesse "por meio" dele - daí a palavra latina medium para designar pessoas que cedem seu corpo físico aos mortos, ou desencarnados, segundo a conceituação espírita. Chico frequentemente doava à obra psicográfica e assistencial um tempo que seria de descanso e lazer, pois até se aposentar, em 1961, tinha um humilde emprego de tempo integral como inspetor agrícola. Trabalhou desde os oito anos: foi operário, servente de fiação, auxiliar de cozinha e balconista de armazém. Nunca se empregou em funções burocráticas, pois sua educação regulamentar só alcançou a antiga quarta série primária. Não obstante, algumas das entidades espirituais que se valiam de sua escrita usavam de linguagem burilada e exprimiam conceitos que, de certa forma, antecipavam as mais ousadas concepções da ciência. Dos livros psicografados haviam textos em inglês, alemão, esperanto, sânscrito e braile (a linguagem escrita dos cegos).
ESCREVENTE SEMIMECÂNICO
ESCREVENTE SEMIMECÂNICO
Com certeza Chico Xavier não estudou física nem astronomia. Mas foi no interior de Minas Gerais, no começo do século passado. Mas foi ali que começou a ter revelações do além. Ainda muito criança, contou à madrinha que sua mãe, embora morta, lhe aparecia e aconselhava a paciência. Rita - talvez movida por boas intenções - punia o menino com rigor maior que o costumeiro, ferindo-o com um grafo e obrigando-o a levar na cabeça uma pedra de 15 quilos, em procissões. Contudo, nada o afastou da doutrina espírita, sobre a qual começou a ler quando 17 anos.
Naquela mesma ocasião, para socorrer uma irmã supostamente atormentada por maus espíritos, Chico procurou amigos espíritas, José Hermínio Perácio e sua mulher, Carmem. O casal conseguiu curar a moça, doutrinando-a e ao mesmo tempo esclarecendo os espíritos sobre sua condição de desencarnados que deveriam procurar evoluir ao invés de se apegarem à realidade terrena. O espiritismo ganhava um fiel adepto que se desenvolveu como "medium escrevente, semimecânico", conforme Chico se descreveu no prefácio de Parnaso de além-túmulo, editado em 1932.
Essa sua primeira obra psicografada revelou 56 poesias assinadas por catorze nomes famosas da literatura brasileira, como Artur de Azevedo, Olavo Bilac, Alphonsus de Guimarães, Casimiro de Abreu , Castro Alves, Augusto dos Anjos e outros fisicamente mortos. O espiritismo trouxe à baila a importância mística como forma de revelação espiritual, dos médiuns escrevente - ou psicógrafos, como são também conhecidos. Antes da codificação da doutrina espírita por Allan Kardec (pseudônimo do médico francês Hippolyte León Denizard Rivail), automatismos motores eram considerados apenas enquanto manifestações de escrita ou arte em que a intervenção do consciente é muito reduzida. Tinham interesse psiquiátrico, com vistas à exploração do subconsciente.
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