Quem foi Saint Germain?


Como vimos em O Homem que veio do nada, muitas histórias semelhantes circularam nos salões da aristocracia francesa quando o conde de Saint Germain começou a ficar famoso. Ele insinuava, por exemplo, que conhecera Jesus e seus pais, que estivera presente nas bodas de Canaã, e que sempre soubera "que o Cristo teria um triste fim". Dizia ainda que Ana, a mãe da Virgem Maria, o impressionara tanto que ele propusera pessoalmente sua canonização no Concílio de Nicéia, em 325 d.C.



Pouco tempo depois, o conde foi recebido por Luís XV, conquistando-lhe as boas graças e as de sua amante, madame Pompadour. E, como o rei também se interessasse por alquimia, dispondo inclusive de um laboratório, o relacionamento entre ambos logo se estreitou.

Não há qualquer registro sobre os dois anos que Saint Germain passou na Inglaterra, até sua detenção em 1745. Mas é provável que estivesse em missão secreta a serviço de Luís XV: quando retornou à França, em várias ocasiões o rei o incumbiu de articulações políticas.



Em 1760, o conde encontrava-se em Haia como represente pessoal do soberano francês, com o intuito ostensivo de obter um empréstimo junto à Áustria para ajudar o financiamento da Guerra dos Sete Anos contra a Inglaterra. Durante sua estada na Holanda, Saint Germain desentendeu-se com o amigo Casanova, também diplomata. Casanova empenhou-se para desacreditá-lo publicamente, mas não obteve êxito.

Contudo, o conde fizera outro inimigo, muito mais poderoso do que Casanova: o duque de Choiseul, eficiente ministro dos Negócios Estrangeiros de Luís XV. Invejoso da intimidade que havia entre o rei e Saint Germain, Choiseul descobriu que o conde estivera sondando, por iniciativa própria, a possibilidade da negociação de paz entre a Inglaterra e a França, com a ajuda do governo holandês. Contrário a esses planos, Choiseul convenceu o rei de que Saint Germain o estava traindo. Ameaçado de prisão, o conde fugiu para a Inglaterra, retornando depois à Holanda com outra identidade.



Durante os dois anos ou três anos em que lá permaneceu, Saint Germain usou o nome de conde de Surmont e, com o dinheiro emprestado, instalou um laboratório onde, além de fabricar tintas e pigmentos, aperfeiçoava as técnicas de alquimia para o enobrecimento de metais. Tudo indica que foi bem-sucedido, pois deixou a Holanda com 100 mil florins, surgindo a seguir na Bélgica com o nome de marquês de Monferrat. Em Tournai, montou mais um laboratório, antes de desaparecer outra vez.

Nos anos seguintes, relatos de suas atividades surgiram em diversos pontos da Europa. Em 1768, estava na Rússia, na corte de Catarina, a Grande. A Turquia acabara de declarar guerra à Rússia e a habilidade diplomática, além do vasto conhecimento de política, garantiu a Saint Germain uma situação privilegiada.

A ilustração mostra a cerimônia de iniciação maçônica, na década de 1740.
Tornando-se conselheiro do conde Alexei Orlov, comandante das Forças Imperiais russas, dele recebeu como recompensa um alto posto no Exército, adotando então o irônico pseudônimo de general Welldone (general Bem-Feito).

Saint Germain deixou a Rússia em 1770. Quatro anos depois apareceu em Nurembrg, solicitando fundos a Carlos Alexandre, príncipe de Brandemburgo, com o intuito de montar outro laboratório. Desta vez, apresentou-se como príncipe Rákóczy, um dos três irmãos da nobreza da Transilvânia. De incio, Carl ficou impressionado, sobretudo quando o conde Orlov, ao fazer uma visita oficial a Nuremberg, abraçou calorosamente o "príncipe". Apesar disso, Carlos Alexandre ordenou uma investigação, descobrindo que os três irmãos Rákóczy estavam mortos e que o "príncipe" era na realidade o conde de Saint Germain. Este achou prudente mudar-se o que fez em 1776.



Uma das acusações levantadas pelo duque de Choiseul era a de Saint Germain, durante sua permanência na corte francesa, trabalhara como agente duplo para Frederico, o Grande. Se isso aconteceu, seu antigo senhor preferiu esquecer a ligação, pois ignorou uma carta do conde pedindo proteção. Sem se deixar abater, Saint Germain partiu para Leipzig e apresentou-se ao príncipe Frederico Augusto, de Brunswick, alegando ser maçom do quarto grau.

Foi um lace audacioso, pois Frederico Augusto era grão-mestre da Loja Maçônica Prussiana. O príncipe ficou desconfiado e duvidou de sua afirmação e pediu-lhe que fizesse os sinais secretos de um maçom. Saint Germain alegou - sem convencer - que havia esquecido os sinais... Logicamente, não foi reconhecido como iniciado maçom. Foi dado como goteira - termo em maçonaria que é dado ao "intruso", aos embusteiros que tentam penetrar numa sessão secreta.

Eckernförde, na Alemanha, foi o último local conhecido por onde passou, lá chegando em 1779. Já mostrava aparência de sexagenário e continuava se afirmando bem mais velho. Uns 2.000 anos mais velho. Perdera muito de seu encanto e foi difícil conquistar a confiança do príncipe Carl von Hessen-Kassel. No entanto, o conde acabou por convencê-lo de seus poderes.


Não durou muito sua estada em Eckernförde. Segundo os registros da paróquia local, em 27 de fevereiro de 1784, o conde de Saint Germain morreu no castelo do príncipe Carl. Seu último protetor mandou erigir um túmulo com a seguinte inscrição: "Jaz enterrado nesta igreja aquele que chamava a si mesmo de conde de Saint Germain e Welldone, sobre quem não existem outras informações".

Apesar disso, há indícios de que ele não estaria morto. Várias pessoas afirmaram tê-lo visto entre os anos de 1784 e 1820, em diversos lugares, e muitos ocultistas se aproveitaram do personagem para criar um mito que hoje conhecemos.


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